Um péssimo hábito acadêmico - muito fomentado pela ideia divisória de ciências “humanas” e ciências “exatas” - é compreender sua própria área de estudo de forma isolacionista, como se Matemática e Filosofia, Engenharia e Estética não tivessem nenhuma relação teórica ou prática. Nos meus anos estudando História, compreendi que qualquer ciência está entrelaçada de forma intrínseca com as demais, tornando o trabalho do cientista cada vez mais amplo, complexo e enriquecedor.
Hoje, com os avanços tecnológicos e científicos, com o aumento de informações, fica mais evidente que, por exemplo, o Teólogo não deve estudar apenas hermenêutica bíblica, nem o Físico apenas geometria analítica. O Teólogo, muitas vezes, também é um Filólogo e Filósofo, e o Físico um Geógrafo ou Químico. O ofício do Historiador, nessa discussão sobre transdisciplinaridade, é o mais afetado.
É indispensável no complexo trabalho contemporâneo do historiador - para ser mais do que apenas um narrador de historiografias – que ele busque adquirir um repertório variado de leituras, pesquisas e experiências. É preciso que o historiador seja capaz de englobar conhecimentos de várias disciplinas e conteúdos distintos. O historiador deve conhecer sobre guerras, política e cultura; mas, é indispensável para explorar, encontrar e registrar a verdade na história, ter um domínio básico sobre os pilares da Biologia, da Física, da Medicina, do Direito, da Economia, da Música, da Linguagem, da Poesia, da Teologia, Filosofia e o que mais puder dominar.
O historiador tem como seu principal objeto o homem; homem complexo, individual, mas também social e distinto, que não pode ser compreendido adequadamente através de uma redução de sua experiência existencial à mera motivação econômica (como pensam os econométricos materialistas) ou mesmo religiosa (como pensam os transcendentalistas). Portanto, para compreender e explicar seu objeto no seu sentido abrangente como o é, o Historiador precisa assumir de ínicio a natureza universal do homem, a extensão experiencial do ser e a relação do mesmo com os vários aspectos modais da vida humana.
O historiador ideal, penso eu, encarna o espírito investigativo de Sherlock Holmes, o brilhante e multiconhecedor personagem de ficção da literatura britânica criado pelo médico e escritor Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930). O historiador ideal ´é aquele que abraça a tese de Marc Bloch (1886-1944), um pensador que em suas obras refletiu essa busca constante pela transdisciplinaridade da ciência da História, alguém que vislumbrou a necessidade da compreensão e aplicação das diversas áreas do conhecimento dentro de um assunto específico: a vida humana no tempo e no espaço. Bloch escreveu: “Toda ciência, tomada isoladamente, não significa senão um fragmento do universal movimento rumo ao conhecimento.”