A crise hídrica é uma parte central dos efeitos da emergência climática que tem sua origem no modelo de produção e consumo predominantes nos últimos séculos. Tal situação coloca regiões inteiras em longos períodos de estiagem, em situações de alagamento ou ainda sob efeitos causados por fortes chuvas.
Há uma concentração privada no uso da água disponível pela agricultura, mineração e agronegócio que centralizam a utilização de 72% de toda a água disponível. Socializando apenas os efeitos negativos desse processo, uma vez que nenhum desses promove a conservação e recomposição das condições para que os recursos hídricos se mantenham. Na região noroeste do Paraná, por questões constitutivas, há processos prolongados de estiagem que são agravados pela situação de desmatamento do território.
Para além dos grandes rios Paranapanema e Paraná que margeiam territórios, o rio Pirapó também constitui um afluente importante. Deságuam no Pirapó e, consequentemente, nos outros rios vários riachos e ribeirões que estão ameaçados por diferentes fatores, seja erosão, assoreamento, desmatamento ou ação das cidades. Um desses é o ribeirão Inhaunas (ou popularmente conhecido como ribeirão Saião), que nasce na zona urbana de Paranacity, se junta a outros cursos e deságua no rio Pirapó.
Este ribeirão sofre com os efeitos da falta de estrutura de saneamento urbano de Paranacity, que ocasiona poluição pelas águas que escoam durante a chuva e carregam consigo lixo. Não há, tampouco, árvores que protejam as margens na maior parte do curso da água, o que agrava o assoreamento pela areia.
Na área do assentamento Santa Maria, existe uma quantidade de nascentes que estão ligadas ao Inhaunas e outras que foram “surgindo” do processo de conservação ambiental estabelecido. No terceiro trimestre de 2024 foram realizadas atividades que focaram em mapear e proteger estas. Parte desse trabalho foi executado com o apoio da Itaipu Binacional através do auxílio eventual “REFLORESTAMENTO, CUIDADO DA ÁGUA E DO SOLO NA CONSTRUÇÃO DA AGROECOLOGIA E COOPERAÇÃO”.
Ações assim são parte do processo de “cultivar a água”, criando condições para que se mantenham ou regenerem. Existe a necessidade de um processo sistêmico que permita construir ou manter as condições para que a água possa fluir e ser utilizada ou não pela população. Para além da ideia de uso da água, é fundamental lembrar que a importância de ações assim não precisa (nem deve) ser mensurada por uma lógica de precificação, e sim, pelo valor que possuem para a sustentabilidade da vida de forma sistemática. Fotos e Escrita por: Cristina Sturmer dos Santos, militante do Setor de Produção do MST, Economista e assentada no Assentamento Santa Maria em Paranacity.